sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Arriete Vilela fala da poesia de Ricardo Cabús em Cacos Inconexos



A poesia de Ricardo Cabús, em “Um caco de mim”, é inteligente, inquietante e ardilosa; tem-se a impressão de que se preparam, a cada verso, armadilhas polissêmicas, tantas são as ambiguidades de sentido, ou melhor, as significações simbólicas. E então é inevitável lembrar Clarice Lispector: “O que te falo nunca é o que eu te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me foge e no entanto vivo dela”.

Seus “cacos” não se submetem à literalidade, e as entrelinhas, por isso, pedem uma leitura atenta e sensível, pois são as sutilezas que marcam esse discurso poético, esse modo de Ricardo Cabús reinventar o real, subvertê-lo, enriquecê-lo, criando uma literatura conectada à vida, sim, mas de uma forma profunda, delicada, numa busca de completude, com a projeção da alma na memória do coração.

Assim, mais uma vez, ocorre uma outra frase de Clarice Lispector: “Das palavras deste canto, canto que é meu e teu, evola-se um halo que transcende as frases, você sente?”.

Sim, em cada poema de “Um caco de mim” (1ª parte de Cacos Inconexos), Ricardo Cabús vai além de si mesmo, ultrapassa-se e aclara em cada um de nós as possibilidades de uma vida interior significativamente melhor, isto é, mais criativa, mais inquietadora, mais crítica, para além da alma rasa dos “Esteves sem metafísica” pessoanos.

Ponto pra você, Ricardo.

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