quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A poesia tomou e deu um banho de alegria


Eram sete e quarenta e cinco da noite. Do camarim – por uma fresta da janela – eu olhava o aguaceiro um tanto preocupado. Maceió tinha feito um dia de sol e decidira mudar de ares justamente momentos antes do início do III Sarau Erótico-Carnavalesco do Papel no Varal. O evento se propunha a trazer o espírito dos cabarés do século passado. A produção, coordenada de forma competente por Taísa, administrava os últimos preparativos para o início do show marcado para as oito. O varal com os 100 poemas já estava pronto abaixo da cúpula do Museu Theo Brandão. Pontualmente às oito e meia – para esquentar o público que assistia, sob os toldos, o cair persistente de uma caudalosa chuva de verão – a Banda Kafonas Brega Show começou o tocar. Dez minutos de um pot-pourri de lambadas foram suficientes para a chuva resignar-se e entrarmos no palco. Estava acompanhado de Carina Flor, Rosângela e Olodum, as varaletes, que dariam um toque de alegria durante todo o show. A minha indumentária era um tanto ridícula. Pela primeira vez usava anéis e correntes e creio que pela segunda vez calça branca (antes tinha sido na primeira comunhão). Mas nada pior que a barbicha, cuidadosamente desenhada pelo barbeiro Nilton, sob as orientações da produtora ao telefone.

A plateia estava muito animada. Ao invés de água, recebi uma chuva de calcinhas, que me deixaram um tanto encabulado com a brincadeira em homenagem ao Wando. Mas entrei na onda. Dava para ver muita gente que nunca havia aparecido em nossos eventos, misturada a poetas, artistas e amigos do Projeto Papel no Varal. Para minha felicidade, Letícia, Maria Luíza e Cidinha estavam na primeira fila. Recebo logo cinco inscrições para leitura e dou início ao sarau propriamente dito. Convido ao palco a atriz Mary Vaz que fez uma estátua viva no palco durante o espetáculo. As leituras se seguiram. Quando queria – e creio que todos quiseram – o leitor escrevia um verso no corpo da atriz. Com o tempo e os versos as roupas iam diminuindo no corpo de Mary, que ficava à mostra. No palco desfilaram diversos personagens, ressaltando a figura ilustre do Duque de Jaraguá, Carlito Lima, que leu Olavo Bilac, e do diretor do museu, Wagner Chaves, dizendo Mia Couto.

Fizemos o show em três blocos, com dois intervalos musicais com o melhor da música de cabaré, quando a plateia pôde dançar juntinho. Enquanto o telão, comandado por Larissa, mostrava algumas imagens em torno do tema do evento, as varaletes eram só sorrisos e passos. Lidiane e Bruna auxiliavam-me no palco, trazendo-me sempre as inscrições de leitura. Em algum momento veio-me o espírito de ex-professor de forró que me fez dançar umas lambadas com as meninas e acompanhar suas coreografias. Não sei se ficou bom, mas que eu me diverti muito, isso ninguém pode negar.

Houve sorteio de brindes dos patrocinadores e uma visita surpresa do Lobão (das Alagoas), produtor de filmes pornô, que ofertou um conjunto de dvd, muito disputado por parcela significativa do público.
Durante o evento, uma comissão julgadora escolhia a melhor leitura ou performance amadora. Ana Couto venceu o concurso, dizendo “O Tato” de Arnaldo Antunes. Bruno Duarte foi menção honrosa com “O monge e a velha” de Clément Marot e tradução de José Paulo Paes.

Outra surpresa da noite deu-se quando o ator Gustavo Gomes leu o poema Dialógica, de minha autoria, e – ao escrever os versos no corpo da estátua viva – desnudou-a por completo, recebendo as palmas da plateia. Estávamos no terceiro e último bloco que transcorreu com belas leituras. Fechei o sarau dizendo o poema “Safo em Jatiúca” do poeta alagoano Marcos de Farias Costa e entreguei o palco à banda, que colocou o público no salão, encerrando uma noite onde os ritmos e versos populares entremearam a poesia dos grandes clássicos de literatura erótica de todos os cantos e de todos os tempos. Eram onze e trinta da noite. O céu escuro enxugava as últimas gotas d’água e a poesia fruía minhas veias.


Um comentário:

  1. Ricardo,

    Que maravilha esse evento hein, mais um... Desejo vida longa a essa iniciativa que leva poesia de todo canto pra todo mundo.

    Aproveito para parabenizar todos que promovem, produzem e que comparecem.

    Meu afeto, saudades desde o Recife.

    Beijo, Mavi.

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