Maria Stela Torres Barros Lameiras
Verão - 2014
O
livro de Izabel Brandão já dispensa, por si só, a embalagem de um lindo
presente – ele já é um presente. Dá-nos
mesmo a impressão de que estamos entrando em um jardim, com a capa florida, parecendo
anunciar que AS HORAS DA MINHA ALEGRIA
serão divididas com suas leitoras, com seus leitores, com os que tiverem a
chance de degustar as palavras deste livro.
Gosto
da ideia da escritora Helena Parente, prefaciadora deste livro, quando ela nomeia
seu prefácio de TRAVESSIA EM BUSCA DE UM
LUGAR. Gosto de travessias, vivi
sempre próxima de muitas fronteiras - geográficas, sociais, culturais, políticas
e até mesmo de uma fronteira que existe em todos nós, no espaço do que somos e
no do que queremos ser. Foi por essa
razão, que eu me apressei para espreitar o final do livro... Descobri, então, e
não sem grande alegria, que o sentimento de estrangeiridade, revelado em muitos
momentos pela autora, cede lugar a uma parada estratégica. É quando ela decide “aportar” (p.126) por aqui, quando ela
diz, movida pelas noites serenadas pela luz da lua: “É aqui mesmo que vou ficar” (p.126). Ficaria triste se assim não o
fosse, mesmo sem saber se quem aporta é a amiga que eu quero por perto, ou se é
a poeta que prefere ir e vir em busca de um lugar...
Foi com a avidez de uma leitora que se encanta com as palavras que
percorri as páginas do livro de poemas de Izabel: poemas cujas rimas
ultrapassam a métrica dos sentidos, palavras que constroem um paralelismo doído
em Almas tristes - “sem terra, sem teto sem nada” (p.91),
mas também em palavras que parecem se
desprender do chão e pegar a rota do mar, valendo-me aqui, mais uma vez, das palavras da autora.
Estrangeira?
Exilada? Talvez apenas inquieta, uma inquietude que é saudável para quem quer
se sentir vivo, para quem sente pulsar como a poeta, em seus Rumores errantes: “remotos desejos/arcaicos
lampejos /como vagalumes piscando (...)” (p.76).
Toda
retorno implica uma ida... Toda ida supõe um retorno... Esses movimentos no
tempo e no espaço, quando descritos nas palavras da poeta – e aqui em me refiro
especificamente à Izabel -, fazem saltar uma voz que faz ecoar vozes interiores, nas quais se
refletem tantas outras vozes de nosso entorno físico e espiritual. São vozes que desnudam e revestem nosso ser,
são vozes que clamam silenciosa e vorazmente como no “Sinal de trânsito”, uma “agonia
[que] beira as bordas do coração” (p.86);
são vozes que trazem “Verdes palavras na
pele”, revelando, com um toque de esperança, que “Tudo isso é novo/ e esse começo, melhor, recomeço,/ é só leveza/ de
novo (p.111).
De
repente, na p.63, a poeta nos presenteia com a bela imagem de um de seus versos (aliás, BELA sempre
foi um adjetivo de valor SUBSTANTIVO na vida de Izabel). Falo do momento em que
vamos encontrar a poeta “sentada na
calçada /com as asas na mão”... Asas
que a autora nos dá quando tentamos acompanhar as partidas e as chegadas, as trilhas e as tramas que atravessam seus
poemas. Não há exatamente respostas nas
poesias de Izabel - a poesia não foi
feita para dar respostas. Acho que foi essa a intenção – se é que podemos falar
de intenção em se tratando de poesia - do escritor Pablo Neruda em seu LIVRO DAS PERGUNTAS, no qual, entre suas
indagações, o autor se perguntava: Onde terminará o arco-íris: dentro da alma ou
no horizonte?
Acredito que o livro de Izabel, assim como o arco-íris de Pablo Neruda, vai nas duas
direções, na da alma e na do horizonte; ou melhor, penso que vai na direção do
horizonte da alma, pois esta pode fazer vislumbrar múltiplos horizontes.
Por isso, penso que poesia que se explica
deixa de ser poesia, poeta que se conhece plenamente, deixa de ser poeta. Mas o
coração de quem escreve a poesia, de quem vive a poesia, esse sim, pode-se
reconhecer facilmente... E é ao coração da poeta Izabel que eu me dirijo, para
agradecer pelo ENCONTRO que a vida promoveu entre nós, como companheiras de
trabalho, como amigas, como seres humanos que reconhecem a provisoriedade do
lugar em que nos instalamos e, por isso, vivem a inquietude da busca, mas nem
por isso deixam de buscar a felicidade no lugar em que se encontram.