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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Bukowski, blues e cerveja… beba cerveja!


Um texto muito bem escrito e de extrema generosidade, sobre o Bukowski Blues, no BomBar. Acompanham belas fotos.




Para as estrelas me apontarem o caminho


Estava no aniversário de Zé Ivo, quando Atiba me propôs fazermos um evento juntos. É jazz? Perguntei. – Não, é blues, ele disse. Não tive dúvidas no título: Bukowski Blues. Em poucos dias estava tudo resolvido, seria no BomBar numa terça-feira (11/1/11), às 21 horas. Fiquei noites e noites lendo, selecionando e traduzindo poemas, já que tinha apenas seis ou sete do Bukowski. Consegui chegar aos 25 poemas que se somariam aos 12 blues selecionados por Atiba. Na segunda-feira, todas as 45 mesas estavam reservadas, e ainda sairia uma bela matéria no Bom Dia Alagoas no dia do show. Desconfiei que a casa estaria cheia. Dito e feito, show com gente em pé por todo lado, encostando-se aos muros, árvores e carros das redondezas. Disseram que havia mais de 300 pessoas. Desconfiei que o Bar não fosse dar conta. Dito e feito, o que aumentou o clima bukowskiano da noite. A plateia era eclética, a maioria de jovens que se mesclavam à geração que lera Bukowski quando tinha a idade deles. O show atrasou devido a problema com um dos instrumentos na passagem de som. Depois de abrir minha garrafa de cachaça, começamos o Bukowski Blues algo depois das nove e meia. Iago leu um texto de apresentação do show, que se iniciou com Atiba Taylor e Ricardo Lopes levantando a plateia com um belo blues que não lembro o nome agora. Em seguida, eu disse ‘A genialidade da multidão’. Músicas e poemas se cruzarão de forma harmônica. Got a feeling, Down home blues, Georgia, Summertime, dentre outros blues, alternaram-se com poemas como role os dados, o amor é um cão do inferno, confissão, como ser um grande escritor e azulão. A música estava perfeita. Atiba, em noite inspirada, cantou, tocou sax, piano, agitou a plateia. Ricardo Lopes fez o que quis com a guitarra e o violão. Havia química entre os dois e o público. Em certo momento, o músico norueguês, Rolf-Eric Nistrom, que estava de passagem por Maceió, se juntou à Atiba e Lopes e deu uma canja mais que especial. Enquanto dava vazão à minha exclusiva garrafa de cachaça, em homenagem ao velho Buck, os poemas eram ditos. Creio que alguns saíram legais. Um detalhe, depois de lidos, eu sempre jogava os poemas ao chão. Entre um gole e outro noto um apanhador de poemas, que corria para pegá-los, cada vez que uma folha procurava o melhor trajeto para encontrar o solo. Era Luiz, que provavelmente também estava alcoolicamente sintonizado com o clima bukowskiano da noite. Percebi que Janaína e Magella sorriam. Houve um momento que apareceu um carro da polícia. Era um show, mas como eu estava dirigindo bêbado, pensei logo que era comigo. Mas não, os caras ficaram ouvindo a bela música e alguns poemas até que saíram quando li um verso que falava da estreiteza de uma parte muito interessante (pelo menos para mim) da anatomia feminina. E como em quase todos os meus eventos, choveu. Mas o álcool fez-me não perceber a chuva, nem o relógio. O que era para ser uma hora e meia de apresentação tornou-se três. Fiquei impressionado quando percebi que passava da meia-noite e as mesas estavam praticamente todas ocupadas. Fechamos o show com azulão (bluebird) “em meu coração existe um pássaro um azulão que quer sair mas eu não permito, ...”. Ainda tive consciência para autografar – com um garrancho ilegível, mas cheio de felicidade – alguns exemplares de ‘Cacos Inconexos’. Ouvi alguns comentários legais das pessoas e dei uma entrevista para um blog. Espero que não tenha falado muita bobagem, pois não consigo lembrar o que disse e nem mesmo o endereço para ler a entrevista. Em seguida, escolho uma mesa afastada, sento acompanhado de minha garrafa e tomo meu último gole, enquanto o céu de Maceió abre suas pernas para as estrelas me apontarem o caminho. (ricardo cabús)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Bukowski - Azulão / bluebird

Animação baseada no poema Azulão (bluebird), do Bukowski.


Charles Bukowski

azulão

Tradução: Ricardo Cabús

em meu coração existe um pássaro um azulão que

quer sair

mas eu não permito,

eu digo, fique aí, eu não vou deixar

ninguém ver

você.

em meu coração existe um pássaro um azulão que

quer sair

mas eu dou uísque para ele e jogo

fumaça de cigarro

e as putas e as garçonetes

e as atendentes

nunca sabem que

ele está aqui dentro.

em meu coração existe um pássaro um azulão que

quer sair

mas eu não permito,

eu digo,

fique quieto, você quer

me ferrar?

você quer fuder meu trabalho?

você quer estragar a venda de meus livros na

Europa?

em meu coração existe um pássaro um azulão que

quer sair

mas eu sou sabido, eu só deixo ele sair

de vez em quando à noite

quando todo mundo está dormindo.

eu digo, eu sei que você está aí,

não fique

triste.

então eu coloco ele de volta,

mas ele ainda está cantando um pouco

aqui dentro, eu não deixei ele

morrer totalmente

e nós dormimos juntos desse

jeito

com nosso

pacto secreto

e isto é tão legal que

faz um homem

chorar, mas eu não

choro, e

você?

Charles Bukowski

bluebird

there's a bluebird in my heart that

wants to get out

but I'm too tough for him,

I say, stay in there, I'm not going

to let anybody see

you.

there's a bluebird in my heart that

wants to get out

but I pur whiskey on him and inhale

cigarette smoke

and the whores and the bartenders

and the grocery clerks

never know that

he's

in there.

there's a bluebird in my heart that

wants to get out

but I'm too tough for him,

I say,

stay down, do you want to mess

me up?

you want to screw up the

works?

you want to blow my book sales in

Europe?

there's a bluebird in my heart that

wants to get out

but I'm too clever, I only let him out

at night sometimes

when everybody's asleep.

I say, I know that you're there,

so don't be

sad.

then I put him back,

but he's singing a little

in there, I haven't quite let him

die

and we sleep together like

that

with our

secret pact

and it's nice enough to

make a man

weep, but I don't

weep, do

you?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A genialidade da multidão - Charles Bukowski


Charles Bukowski

A genialidade da multidão

Tradução: Ricardo Cabús

há bastante traição, ódio, violência, absurdo no ser humano

comum para suprir qualquer exército em qualquer dia

e os melhores assassinos são os que pregam contra isto

e os melhores em ódio são os que pregam amor

e os melhores em guerra finalmente são os que pregam a paz

aqueles que pregam deus, precisam de deus

aqueles que pregam a paz, não têm paz

aqueles que pregam a paz, não tem amor

cuidado com os pregadores

cuidado com os entendidos

cuidado com aqueles que estão sempre lendo livros

cuidado com aqueles que detestam pobreza

ou têm orgulho dela

cuidado com aqueles que são rápidos no elogio

porque precisam de elogios de volta

cuidado com aqueles que são rápidos na censura

eles estão preocupados com o que não sabem

cuidado com aqueles que vivem buscando multidões porque

não são nada sozinhos

cuidado com o homem comum a mulher comum

cuidado com o amor deles, o amor deles é comum

busca o comum

mas há genialidade no ódio deles

há bastante genialidade no ódio deles para matar você

para matar qualquer um

não querendo a solidão

não entendendo a solidão

eles tentarão destruir tudo

que for diferente deles próprios

não sendo capaz de criar arte

eles não entenderão de arte

eles considerarão suas falhas como inventores

apenas como uma falha do mundo

não sendo capaz de amar completamente

eles acreditarão na incompletude do amor

e então eles odiarão você

e esse ódio será perfeito

como um diamante brilhante

como uma faca

como uma montanha

como um tigre

como cicuta

a mais fina arte.

Charles Bukowski

The Genius Of The Crowd

there is enough treachery, hatred violence absurdity in the average

human being to supply any given army on any given day

and the best at murder are those who preach against it

and the best at hate are those who preach love

and the best at war finally are those who preach peace

those who preach god, need god

those who preach peace do not have peace

those who preach peace do not have love

beware the preachers

beware the knowers

beware those who are always reading books

beware those who either detest poverty

or are proud of it

beware those quick to praise

for they need praise in return

beware those who are quick to censor

they are afraid of what they do not know

beware those who seek constant crowds for

they are nothing alone

beware the average man the average woman

beware their love, their love is average

seeks average

but there is genius in their hatred

there is enough genius in their hatred to kill you

to kill anybody

not wanting solitude

not understanding solitude

they will attempt to destroy anything

that differs from their own

not being able to create art

they will not understand art

they will consider their failure as creators

only as a failure of the world

not being able to love fully

they will believe your love incomplete

and then they will hate you

and their hatred will be perfect

like a shining diamond

like a knife

like a mountain

like a tiger

like hemlock

their finest art

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A poesia de Charles Bukowski invade o verão de Maceió


Bukowski Blues. Na próxima terça, 11/1/11, às 21h, no BomBar (Jatiúca), o Instituto Lumeeiro apresenta uma noite de poesia e música. Ricardo Cabús traz a poesia de Charles Bukowski -- o melhor poeta dos Estados Unidos, segundo Jean Paul Sartre -- banhada no blues de Atiba Taylor e Ricardo Lopes.



Serviço

Evento: Bukowski Blues
Quando: terça-feira, 11/1/2011, 21h.
Onde: BomBar - Jatiúca - Maceió - AL. (Ver Mapa Abaixo)

Mesas (4 lugares): antecipada: R$ 12,00
No dia: R$ 16,00
Vagas limitadas
Indicação : 14 anos
Informações e reserva de mesas: 8872.1705 / reservas@lumeeiro.org

Promoção: Instituto Lumeeiro
Apoio Cultural: Rádio Educativa FM, Instituto Zumbi dos Palmares.




Visualizar BomBar em um mapa maior

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Última tradução de 2010

Charles Bukowski

o amor é um cão do inferno

Tradução: Ricardo Cabús

pés de queijo

alma de cafeteira

mãos que odeiam tacos de sinuca

olhos como clipes de papel

eu prefiro vinho tinto

eu fico entediado em aviões de carreira

eu sou dócil durante terremotos

eu sou sonolento em funerais

eu vomito em desfiles

e vou ao sacrifício no xadrez

e nas bucetas e nos afetos

eu cheiro urina nas igrejas

eu não consigo mais ler

eu não consigo mais dormir


olhos como clipes de papel

meus olhos verdes

eu prefiro vinho branco


minhas camisinhas estão ficando

vencidas

eu tiro todas do envelope

Jontex

lubrificadas

para maior sensibilidade

eu tiro todas do envelope

e coloco três delas


as paredes do meu quarto são azuis


Linda para onde você foi?

Catarina para onde você foi?

(e Nina foi para a Inglaterra)


eu tenho cortadores de unha

e limpa-vidros Vidrex

olhos verdes

quarto azul

metralhadora solar brilhante


tudo isto é como uma foca

presa em rochas oleosas

e arrodeada pela Banda Marcial de Long Beach

às 3h36 da tarde


há um tique-taque atrás de mim

mas nenhum relógio

eu sinto alguma coisa rastejando

no lado esquerdo de meu nariz:

memórias de aviões de carreira

minha mãe tinha dentes postiços

meu pai tinha dentes postiços

e todo sábado de suas vidas

eles tiravam todos os tapetes da casa

enceravam o assoalho

e cobriam de novo com os tapetes


e Nina está na Inglaterra

e Irene está no asilo

e eu pego meus olhos verdes

e deito em meu quarto azul.

love is a dog from hell

feet of cheese

coffeepot soul

hands that hate poolsticks

eyes like paperclips

I prefer red wine

I am bored on airliners

I am docile during earthquakes

I am sleepy at funerals

I puke at parades

and am sacrificial at chess

and cunt and caring

I smell urine in churches

I can no longer read

I can no longer sleep


eyes like paperclips

my green eyes

I prefer white wine


my box of rubbers is getting

stale

I take them out

Trojan-Enz

lubricated

for greater sensitivity

I take them out

and put three of them on


the walls of my bedroom are blue


Linda where did you go?

Katherine where did you go?

(and Nina went to England)


I have toenail clippers

and Windex glass cleaner

green eyes

blue bedroom

bright machinegun sun


this whole thing is like a seal

caught on oily rocks

and circled by the Long Beach Marching Band

at 3:36 p.m.


there is a ticking behind me

but no clock

I feel something crawling along

the left side of my nose:

memories of airliners


my mother had false teeth

my father had false teeth

and every Saturday of their lives

they took up all the rugs in their house

waxed the hardwood floors

and covered them with rugs again


and Nina is in England

and Irene is on ATD

and I take my green eyes

and lay down in my blue bedroom.