domingo, 17 de outubro de 2010

Uma arte de Elisabeth Bishop

Elizabeth Bishop

Uma arte

Tradução: Ricardo Cabús

(In: CABUS, Ricardo, Cacos Inconexos. Maceió: Instituto Lumeeiro, 2010)


A arte de perder não é difícil de dominar;

tantas coisas parecem cheias do intento

de ser perdida que sua perda não é um desastre.

Perca alguma coisa todo dia. Aceite a perturbação

de perder as chaves da porta, a hora gasta inadequadamente.

A arte de perder não é difícil de dominar.

Então pratique perder mais, perder mais rápido:

lugares e nomes e para onde você queria

viajar. Nada disso será um desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. E veja! Minha última, ou

quase-última, de três casas queridas se foram.

A arte de perder não é difícil de dominar.

Perdi duas amáveis cidades. E, mais vasto,

alguns reinos que possuía, dois rios, um continente.

Eu sinto falta deles, mas não foi um desastre.

Mesmo perdendo você (a voz brincalhona, um gesto

que amo) eu não deveria ter mentido. É claro que

a arte de perder não é tão difícil de dominar

embora possa parecer como (escreva isto!) como um desastre.

One Art

The art of losing isn't hard to master;

so many things seem filled with the intent

to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster

of lost door keys, the hour badly spent.

The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:

places, and names, and where it was you meant

to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or

next-to-last, of three loved houses went.

The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,

some realms I owned, two rivers, a continent.

I miss them, but it wasn't a disaster.

Even losing you (the joking voice, a gesture

I love) I shan't have lied. It's evident

the art of losing's not too hard to master

though it may look like (Write it!) like disaster.

Um comentário:

  1. Olá Ricardo,

    Gosto muito desse poema, parabéns pela tradução. Gosto principalmente das imagens. Da sensação de algo crescente na construção das nossas perdas, de um desastre que se dilui no meio de tantas coisas para ser um só. Beijos, Lis

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