O Papel no Varal - Poesia de Mulher, ocorrido dia 6 de
março, foi um sucesso. O Maikai estava lotado, mais de 250 pessoas sentadas,
afora o público em pé (ver fotos no link abaixo), foram homenagear as mulheres
através da poesia. As leituras foram provavelmente das melhores de todos os
eventos do Papel no Varal: Zé Marcio, Letícia, Julis, Katia Born, Paloma Amado,
Ricardo Vieira, Edna Lopes, Janaína Amado, Graça Cabral, Osvaldo Viegas,... a
lista é imensa e minha memória diminuta. A noite de poesia tornou-se maior com
a música do Divina Supernova. Ana Galganni e Júnior Bocão acompanhados de Félix
Baigon ao contrabaixo trouxeram de Edith Piaf a Mart'nália e emocionaram a
plateia a cada acorde.
A seleção dos 100 poemas, embora elogiada, teve de deixar de
lado muita gente. Provavelmente deixamos de ouvir boas poesias, mas faz parte
do show, e outros virão.
A produção do evento esteve nas mãos de Taísa Cabús, que junto
com Lidiane, Flávio, Bruna e Sara (que mesmo ausente deu grandes contribuições
na pré-produção) tornaram a noite agradável para todos.
O evento foi patrocinado pela Secretaria Estadual da Mulher,
da Cidadania e dos Direitos Humanos (Governo de Alagoas), fazendo parte da
programação do mês da mulher. Patrocínios como este têm sido fundamentais para
a continuidade do Papel no Varal, que em 29 de abril completará três anos de
existência.
Deixo ao final a última poesia lida no evento como uma homenagem
às mulheres.
Viva o 8 de março.
Ricardo Cabús
Fotos, por Everaldo Dantas:
Naomi Shihab Nye[1]
Fechando o punho
Tradução: Ricardo Cabús
Pela primeira vez, na estrada
ao norte de Tampico,
eu senti a vida deslizar de
mim,
um tambor no deserto, muito
difícil de ser ouvido.
Eu tinha sete anos, estava no
carro
observando pelo vidro as
palmeiras trançarem-se em um padrão nauseante.
Meu estômago era um melão
partido dentro da pele.
‘Como a gente sabe que vai
morrer?’
Supliquei à minha mãe.
Nós estávamos viajando há
dias.
Com estranha confiança ela
respondeu,
‘Quando a gente não puder mais
fechar o punho’.
Anos depois eu sorrio pensando
naquela viagem,
as fronteiras que devemos
cruzar separadamente,
carimbados com nossas aflições
sem resposta.
Eu que não morri, que ainda
estou vivendo,
ainda estou sentada no banco
traseiro atrás de todas as minhas perguntas,
fechando e abrindo uma pequena
mão.
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