domingo, 26 de setembro de 2010

Capa do livro Cacos Inconexos

Um jovem e antigo Ricardo


Vera Romariz


Lendo os sensíveis poemas deste livro de Ricardo Cabús, e os que traduziu, me vem à mente a noção de que os poetas deslizam,impunes,entre uma tradição e o desejo, expresso em palavras,de superá-la.

Suas traduções passeiam por materiais líricos diversos, de onde emerge o belo verso que, a meu ver, traduz a modulação lírica dos poemas de Ricardo; é de Violeta Parra, autora inspirada, que diz: “Voltar aos dezessete depois de viver um século”. É a impressão que nos passa esse percurso poético amplo e multifocal.

Poeta lírico por excelência, imprime aos seres e coisas que poetisa um recorte dúbio, de intimidade e afastamento, de positividade romântica e negatividade moderna. Assim ocorreu com a representação do eixo masculino/feminino (não sei o quanto de mim sou mulher), da representação do cotidiano (agora que comeste/teu quilo de sal), da crise temático-expressiva (Por que devo gostar do rouxinol?). A poesia de Ricardo Cabús parece reiterar, no âmago da experiência verbal, o difícil encontro da face romântica na liberação da modernidade poética.

Quando o autor afirma, pela voz do eu lírico, que quer “o caos /batendo em minha porta”, ou “da brandura do seu corpo/fagulham imagens que me absorvem”; ou quando, ainda, atua como um poeta da natureza, passando pela série musical, quando produz poemas para serem musicados, ocorre um híbrido jeito de dizer que agrada, sensibiliza, encanta.

E vemos um jovem e antigo Ricardo: da Inglaterra, da Maceió que representa, dos amores que canta, sempre imbuído de uma grande perplexidade moderna de não saber a razão das coisas que apenas aprendemos a amar e a cantar, intestina e sensivelmente.

Vera Romariz (poeta e crítica-literária)

Sobre Cacos Inconexos, de Ricardo Cabús - Izabel Brandão



Izabel Brandão (1)

De Ricardo Cabús pode-se esperar tudo, especialmente atrevimento. Seu livro Cacos Inconexos é assim mesmo: atrevido.

Os poemas se derramam sobre nossos ouvidos como quem procura colo, algumas vezes; em outras, a busca é do revelar-se como uma peça frágil da engenharia humana e divina. E mais, o atrevimento também vem sob a forma de uma defesa inconfessável: do gostar de ser homem e de ser heterossexual, ainda que, nessa revelação, pareça enxergar nas mulheres apenas o seu órgão sexual, mas é aí que se deixa revelar caseiro, sexual e domesticamente envolvido pela mulher cobiçada (ou desejada).

O poema em questão, “Dialógica”, integra a segunda parte do livro (“Um caco que corta”), cuja temática é a sexualidade. Das outras partes do livro, pode-se falar em poemas que eu definiria como “poemas necessários” (“Ausência”, “Cinzado”, “Puída”), retomando um velho conhecido nosso de Sheffield, o poeta e crítico Terry Gifford. Esses poemas, alguns bem curtos (aliás, são, a meu ver, os melhores), falam de tudo, da solidão do ser, de alegrias e de ressonâncias que podem ser identificadas com a poesia de Antônio Cícero (“Asas já não tenho”), entre outros poetas.

Os atrevimentos ricardianos também caminham por experimentações com a linguagem e alguns poemas ecoam uma forma conhecida como amuleto, em que a última palavra de um verso começa o verso seguinte (“Um lugar ambíguo da memória”, por exemplo). Os poemas de “Um caco que toca” (quarta parte) trazem ressonâncias musicais, letras compartilhadas musicalmente com outros artistas, com especial atenção para “Sambista fingidor”, um delicioso poema que nos remete a Fernando Pessoa e que tem muito ritmo e poesia e que pede o som que o acompanha.

Talvez o maior atrevimento de Ricardo Cabús em seu livro se dê nos poemas traduzidos (“Um caco catado de outros”, sexta e última parte). É preciso ter, acima de tudo, coragem para traduzir poetas como John Donne, ainda que por um fragmento, ou um Charles Bukovski, ou ainda uma Emily Dickinson ou Elizabeth Bishop e Octavio Paz, entre os tantos outros escolhidos. Uma tradução necessariamente trata de linguagens poéticas diferentes – as línguas têm sons, ritmos, velocidades diferentes. Assim, o que “li” nos poemas traduzidos foi como eles chegaram aos meus ouvidos e como não houve arranhões, apreciei. Óbvio que nenhum leitor/leitora gosta de tudo, mas, nesse caso, prefiro falar do que gostei, como por exemplo, da saudade que senti de Sheffield, pelas fotos da cidade que ilustram os poemas em prosa (ou a prosa-poema) de “Um caco no caminho” (quinta parte) sobre um lugar que me (nos) é muito especial.

Cacos inconexos é um livro que merece ser lido com gosto. O Ricardo poeta, aprendiz de feiticeiro, de Estações partidas, lá dos anos noventa, virou mago e agora ensina feitiços poéticos. Parabéns pelo livro.

(1) Izabel Brandão é professora de Literatura da UFAL e pesquisadora do CNPq.


Cabús no Campus Poético



Marcos de Farias Costa

O engenheiro, professor e poeta Ricardo Cabús eclodiu de forma abrupta na história recente da cultura alagoana e não importa se concordamos ou discordamos de suas convicções: temos que reconhecer que ele conseguiu abalar a vegetativa atividade intelectual alagoana dos últimos 30 anos, subvertendo o marasmo do estaticismo e esteticismo caetés, pondo lenha na fogueira, até a tampa da chaleira voar.

Reunir quase quinhentas pessoas num encontro de poesia erótico-carnavalesca, como ocorreu no tradicional e apático Museu Théo Brandão foi o seu gol de letra: somente em festivais de música se consegue a proeza de se aglutinar tanta gente, num clima etílico de arte e poesia, o que lhe confere o título de líder em noturnas e públicas pelejas literárias. E detonou uma discussão mais ampla e complexa de encontros coletivos poéticos do que os velhos festivais artísticos de Marechal Deodoro, por exemplo, que esgotaram suas potencialidades e não lograram deslanchar o movimento nem influenciaram as gerações subseqüentes. O Papel no Varal ganhou um ritmo e vem se expandindo em tal velocidade que o próprio Ricardo Cabús jamais imaginaria estes resultados nem em seus melhores momentos de otimista radicalidade. Tem que se beliscar ou esfregar os olhos para ver se está realmente acordado. Mas os frutos virão.

Agora em seu segundo livro de poemas Cacos inconexos, Ricardo Cabús ressurge com mais maturidade, domínio de texto, abrangência de temas e percepção poética, dando de quebra um banho como tradutor, vertendo e convertendo ao nosso idioma autores do nível de D.H.Lawrence, T.S. Eliot, e.e.cummings, Emily Dickinson, John Donne (“No man is an island”), Lord Byron (“Eden revives in the first kiss of love”), Sylvia Plath, Octavio Paz, Neruda, Auden, Violeta Parra, Yeats, Walt Whitman, William Blake, und so weiter... É pra se arrombar!

Gostar ou não gostar não é mais a questão shakespereana, o importante é que Ricardo Cabús abriu uma janela no horizonte cultural alagoano, apontando novos rumos, constituindo uma curiosa unanimidade social de poesia, e sendo apenas uma pessoa com uma idéia na cabeça, já fez mais pela divulgação da poesia lírica de nossos autores do que todas as secretarias de cultura do Estado de Alagoas enfiadas no mesmo saco, desde que eu me entendo por gente. Para mim valeu mais que as vociferações antifascistas da moribunda esquerda festiva, os discursos abestalhados sobre o rigor da poesia (rigor mortis?) ou as eternas e babacas ilações sobre o sexo dos anjos.

A poesia parou de necrosar em Maceió.

Maceió, Jaraguá, Rua do Uruguai

(Foto do autor: Ricardo Ledo - Gazeta de Alagoas )

Cacos poéticos - por Romeu de Loureiro


Cacos poéticos
Doutor em Arquitetura, pela Universidade de Sheffield (Inglaterra) e professor da Ufal que se consagrou como agitador cultural, através do seu vitorioso “Projeto Papel no Varal”, o poeta por vocação Ricardo Cabús remeteu-nos um exemplar de sua terceira coletânea de poemas: Cacos Inconexos, que reúne poesias próprias (algumas delas já musicadas) – cujo lirismo não se furta a sutilezas e duplos sentidos, chegando, por vezes, até a mais total crueza – ao lado de inspiradas traduções de poetas de línguas inglesa e espanhola. Nas orelhas, apreciações elogiosas, assinadas por poetas consagrados – a começar de Lêdo Ivo (único alagoano que é membro da Academia Brasileira de Letras) e Arriete Vilela (“imortal” da Academia Alagoana de Letras). Uma obra cuja leitura prazerosa exige um tempo de fruição, de deleite – como, aliás, adverte o próprio Cabús, no poema Declamar. (Romeu de Loureiro, Gazeta de Alagoas, 22.09.2010).

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Arriete Vilela fala da poesia de Ricardo Cabús em Cacos Inconexos



A poesia de Ricardo Cabús, em “Um caco de mim”, é inteligente, inquietante e ardilosa; tem-se a impressão de que se preparam, a cada verso, armadilhas polissêmicas, tantas são as ambiguidades de sentido, ou melhor, as significações simbólicas. E então é inevitável lembrar Clarice Lispector: “O que te falo nunca é o que eu te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me foge e no entanto vivo dela”.

Seus “cacos” não se submetem à literalidade, e as entrelinhas, por isso, pedem uma leitura atenta e sensível, pois são as sutilezas que marcam esse discurso poético, esse modo de Ricardo Cabús reinventar o real, subvertê-lo, enriquecê-lo, criando uma literatura conectada à vida, sim, mas de uma forma profunda, delicada, numa busca de completude, com a projeção da alma na memória do coração.

Assim, mais uma vez, ocorre uma outra frase de Clarice Lispector: “Das palavras deste canto, canto que é meu e teu, evola-se um halo que transcende as frases, você sente?”.

Sim, em cada poema de “Um caco de mim” (1ª parte de Cacos Inconexos), Ricardo Cabús vai além de si mesmo, ultrapassa-se e aclara em cada um de nós as possibilidades de uma vida interior significativamente melhor, isto é, mais criativa, mais inquietadora, mais crítica, para além da alma rasa dos “Esteves sem metafísica” pessoanos.

Ponto pra você, Ricardo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Fiúza comenta Cacos Inconexos



Não bastasse produzir Papel no Varal, um dos mais bem-sucedidos eventos culturais em Alagoas, reunindo centenas de ouvintes-recitantes-boêmios em torno de um gênero tão desprezado; não bastasse ainda o Minuto de Poesia, na Rádio Educativa FM, pausa para grandes obras do mundo inteiro aos ouvidos cansados de tantas canções, Ricardo Cabús, este elétrico engenheiro de luzes, abre-nos agora seu baú de bricabraque, Cacos Inconexos. Feito um monge marinho (“Minha religião é o mar”) e priápico (“Eu quero uma buceta cabeluda/ ou raspada”), Cabús tem a coragem de expor-se em versos de maneira pouco usual, com uma crueza de corar carolas desavisadas (“Minha loucura não cabe em um vaso sanitário”) e almofadinhas mentais (“Eu quero o caos/ batendo em minha porta”). É melhor entregar-se, leitor, e sair revigorado, ainda que escoriado (não é assim o carnaval?), destes Cacos cortantes e contundentes. (Fernando Fiúza)

22/9 - Dia Mundial sem Carro

PROGRAMAÇÃO DE 22/09 - DIA MUNDIAL SEM CARRO EM MACEIÓ


6h às 8h – Bicicletada em frente ao CEAGB
Manifestação pacífica da Bicicletada para expor aos motoristas a ideia do Dia Mundial Sem Carro
Exposição de faixas, cartazes e entrega de panfletos.

7h – No Posto 7 - Passeio matinal de bicicleta pela cidade
Participantes: Prefeito Cícero Almeida, Candidatos ao Governo do Estado, Secretários, Diretores, Assessores, Superintendentes, Funcionários Públicos, Ciclistas de Maceió, Bicicletada de Maceió, Carcará de trilha, Associação Alagoana de Ciclismo, etc. Saída do Posto 7 com concentração a partir das 6h30 e largada às 7h00 com destino a Prefeitura Municipal de Maceió e depois ao Palácio do Governo Estadual.
Organizado pela Associação Alagoana de Ciclismo - AAC

12h30 – Exposiçao do documentário Sociedade do Automóvel – 39 min.
Auditório do Espaço Cultural – Praça Sinimbu, Centro

16h – Oficina na Via Expressa
Uma oficina com ciclistas que circulam pela ciclovia da via expressa onde receberão kit de segurança para ciclistas (refletivos, espelho e campainha), como também informações a respeito das leis de trânsito e demonstração de quanto é bom pedalar para a saúde, para a nossa cidade e para o mundo em que vivemos.
Organizado pela Associação Alagoana de Ciclismo - AAC

17h – Exposiçao do documentário Sociedade do Automóvel – 39 min.
Cesmac - Anexo da Facet, sala 01. Rua Cônego Machado, Farol.

20h – Passeio noturno de bicicleta pela cidade
Saída da Faculdade Maurício de Nassau
Organizado pela Associação Alagoana de Ciclismo - AAC


Além da programação do Dia Mundial Sem Carro, está acontecendo o 1º Encontro Alagoano da Bicicleta, na Faculdade Maurício de Nassau, de 20 a 24/09, a partir das 20h.

http://www.comuniceventos.com.br/index.php/evento/155/1-encontro-alagoano-da-bicicleta

Também está sendo exibido o documentário Sociedade do Automóvel em outros dias e horários:

http://bicicletadademaceio.blogspot.com/2010/09/cinema-de-graca_08.html