Vera Romariz
Lendo os sensíveis poemas deste livro de Ricardo Cabús, e os que traduziu, me vem à mente a noção de que os poetas deslizam,impunes,entre uma tradição e o desejo, expresso em palavras,de superá-la.
Suas traduções passeiam por materiais líricos diversos, de onde emerge o belo verso que, a meu ver, traduz a modulação lírica dos poemas de Ricardo; é de Violeta Parra, autora inspirada, que diz: “Voltar aos dezessete depois de viver um século”. É a impressão que nos passa esse percurso poético amplo e multifocal.
Poeta lírico por excelência, imprime aos seres e coisas que poetisa um recorte dúbio, de intimidade e afastamento, de positividade romântica e negatividade moderna. Assim ocorreu com a representação do eixo masculino/feminino (não sei o quanto de mim sou mulher), da representação do cotidiano (agora que comeste/teu quilo de sal), da crise temático-expressiva (Por que devo gostar do rouxinol?). A poesia de Ricardo Cabús parece reiterar, no âmago da experiência verbal, o difícil encontro da face romântica na liberação da modernidade poética.
Quando o autor afirma, pela voz do eu lírico, que quer “o caos /batendo em minha porta”, ou “da brandura do seu corpo/fagulham imagens que me absorvem”; ou quando, ainda, atua como um poeta da natureza, passando pela série musical, quando produz poemas para serem musicados, ocorre um híbrido jeito de dizer que agrada, sensibiliza, encanta.
E vemos um jovem e antigo Ricardo: da Inglaterra, da Maceió que representa, dos amores que canta, sempre imbuído de uma grande perplexidade moderna de não saber a razão das coisas que apenas aprendemos a amar e a cantar, intestina e sensivelmente.
Vera Romariz (poeta e crítica-literária)
Belas palavras.
ResponderExcluirParabéns ao nosso poeta-professor-engenheiro e a todos os envolvidos no projeto!
mis saludos desde Santiago de Chile, y mis felicitaciones por este trabajo creativo, abrazo
ResponderExcluirLeo Lobos