segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Papel no Varal confraterniza com poesia


O céu estava limpo e a cidade com um trânsito estranho. Embora a distância de meu apartamento ao Bar Delícia das Águas pudesse ser percorrida em menos de cinco minutos, uma blitz da polícia multiplicou por cinco esse tempo. Em outras épocas teria reclamado, mas a violência urbana em Maceió fez-me mudar de opinião. Cheguei alguns minutos após o horário previsto para o último sarau de 2009 do Projeto Papel no Varal, seria a retrospectiva do ano com cem poemas de cem autores que de alguma forma foram destacados em momentos dos sete saraus anteriores, desde o primeiro em 30 de abril no Bistrô Bella Gula.

O ambiente ainda não estava lotado, embora as mesas tivessem sido reservadas até o dia anterior. Taísa havia dado uma nova concepção ao varal, desta vez ele estava concentrado ao lado do palco, não mais sobre algumas mesas, como ocorrera em julho, no mesmo espaço. Com isto o acesso aos poemas ficou facilitado e diminuiu o incômodo causado anteriormente aos frequentadores. Aos poucos, as mesas foram sendo preenchidas e iniciamos o evento logo depois das nove da noite. Os poemas fluíram durante os dois blocos de 50 minutos. No intervalo, Fernando Marcelo e seu violão trouxeram música de qualidade, com destaque para marcha “Papel no Varal” homônima do Projeto, criada alguns anos atrás por mim e Fernando, bem antes da criação do Projeto, o que levou Fiúza a afirmar: “todo poeta é um profeta”. Fernando percorreu parte de seu repertório, acrescido de Elegia, música de Caetano para o belo poema de John Donne.

A noite trouxe de volta habitués do Projeto, como Letícia e Paulo Poeta, que se juntaram a um grande número de novos participantes de diversas idades. Dentre eles a portuguesa Maria João que declamou junto com Allan, voltando para tomar seu posto “isto vicia”, ameaçado por Igor no sarau do Corujão. Teve uma garota que foi abandonada pela companhia no meio do caminho, chegou sozinha no evento, passeou pelo varal, escolheu, declamou, se divertiu muito e deve ter deixado, no dia seguinte, o amigo que desistiu com inveja. Houve uma mesa comemorando aniversário, outro grupo fazendo amigo secreto, casal fazendo declaração pública de amor através de poemas do varal. E assim foi até perto da meia-noite, quando terminamos o sarau. Um evento agradável, com uma atmosfera leve, fruto da mistura gente legal e poesia. A madrugada manteve o bate-papo, que estava intenso quando recebemos a visita da chuva, surgindo para embeber o espírito poético que pairava em cada um dos presentes. Voltei para casa com a alma lavada e enxaguada, como dizia Odorico Paraguaçu, mas impregnada de poesia e felicidade.

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